Corrine, criada na Igreja, havia se afastado ainda jovem, seu marido, Steve, nunca fora católico e o filho deles, Ryan, já com doze anos, também não havia sido batizado.

Porém, no funeral de seu tio, em 2023, ao entrar novamente em uma igreja católica, ela experimentou algo que não sentia há muito tempo: a sensação de estar em casa.

Sem grandes sinais exteriores, apenas com uma clareza silenciosa, Corrine compreendeu que era o momento de retornar, porém não deveria voltar sozinha, mas com toda a sua família.

Então o processo de conversão da família Burns, de Avon Lake, Ohio, começou. Steve e Ryan prontamente iniciaram a preparação catequética e, na Vigília Pascal deste ano, foram recebidos na Fé e comungaram pela primeira vez, além de serem confirmados através do Crisma.

Uma família inteira retorna não por convenção social, nem por pressão. Mas por um chamado interior, reencontrado no meio da perda, pela graça que alcança mesmo nos lugares de mais profunda dor e pesar.

A família Burns não está sozinha. Este é apenas um dos milhares de casos de retorno e adesão à fé católica que aconteceram no mundo inteiro apenas este ano.

Este não é um movimento local, mas global

Não é novidade que a França, após a Revolução Francesa, e a Inglaterra, após a Reforma Protestante, tornaram-se países historicamente hostis à Igreja. Episódios como o martírio de São Tomás Moro — cavaleiro investido por Eduardo IV, que desempenhou diversas funções de prestígio, incluindo sua entrada na corte de Henrique VIII em 1520 — e o martírio das 16 carmelitas do convento de Compiègne, confirmam tal realidade. Ambos foram mortos por se recusarem a apostatar da fé católica: um em nome da nova fé anglicana imposta pelo Estado, o outro diante de uma ideologia revolucionária que pretendia substituir a religião por uma razão laicizada. Cada qual, em seu tempo, selou com o sangue a fidelidade à Roma.

Consequentemente, ambos os países entregaram-se a um ateísmo prático que, entre outras consequências, contribuiu para a perda progressiva de sua identidade nacional — processo iniciado no pós-guerra e agravado pelas crises de fertilidade e de migração que marcam o século XXI.

Porém, os ventos estão mudando.

No Reino Unido, entre 2018 e 2024, a frequência mensal de jovens de 18 a 24 anos à igreja quadruplicou: passou de 4% para 16% (21% entre os homens e 12% entre as mulheres) e hoje, entre os jovens que frequentam igrejas, 41% se identificam como católicos, superando os anglicanos, que hoje constam por 20%. Somente em Londres, a Arquidiocese de Westminster recebeu mais de 500 adultos na Igreja durante a Vigília Pascal de 2025, o maior número desde 2018 e a Arquidiocese de Southwark também apresentou números elevados, com mais de 450 adultos convertidos, mantendo-se entre os maiores totais da última década

Na França não temos tantos dados quanto no Reino Unido, porém há motivos suficientes para rezarmos um Te Deum apaixonado. 

Na França, apenas nesta Vigília Pascal, a Igreja Católica celebrou 10.384 batismos de adultos e mais 7.404 batismos de adolescentes entre 11 e 18 anos — um crescimento de 45% em relação ao ano anterior. Na Arquidiocese de Paris, foram registrados 672 catecúmenos, número significativamente superior aos 515 de 2024 e entre eles, estima-se que de 10% a 20% sejam de origem muçulmana, revelando um fenômeno recente e expressivo.

Um desses casos é o de Nicolas, francês que se converteu ao islamismo em 2008, aos 26 anos, e que, após um tempo vivendo na Indonésia, reencontrou a fé cristã em solo francês. A sua conversão, que começou a florescer em 2017, culminando numa experiência espiritual na basílica de Sacré-Coeur, em Paris, ao rezar ao lado de uma estátua de santa Teresinha de Lisieux. A sua conversão resultou no divórcio da sua esposa muçulmana e no afastamento de seus dois filhos, que permaneceram na Indonésia.

A Áustria, apesar de números mais tímidos, o aumento em porcentagem chama muito a atenção. Cerca de 240 adultos estão se preparando para o batismo nas dioceses da Áustria nesta Páscoa um crescimento de 85% em apenas um ano. Vale ressaltar que dos 240, um terço destes tem menos de 20 anos.

Na Bélgica o número chega a 536 batizados em 2025, o que representa um aumento de quase 50% em relação a 2024, quando foram registrados 362 batismos. Há dez anos, em 2015, esse número era de apenas 180, o que indica que os batismos de adultos quase triplicaram ao longo da última década.

Há grandes números em todos os lugares.

Na Malásia, um país tradicionalmente muçulmano, mais de 2.000 adultos foram batizados nesta Vigília Pascal de 2025. Vindo de um país muçulmano, estimasse que a maior parte seja advinda desta religião, em que cada conversão é carregada de muita luta, dor e renúncia. A história pessoal de Joseph Fadelle – ex-muçulmano iraquiano de família nobre e influente descendente diretamente do profeta Muhammad – escrito em sua autobiografia “O preço a pagar por me tornar cristão”, narra este drama perfeitamente, contando como fora perseguido, torturado e quase morto pela própria família, que o abandonou baleado no meio do deserto.

A Coréia do Sul demonstra números interessantíssimos também. Em 2023, o número de novos batizados nas igrejas coreanas foi de 51.307, um aumento de 24% em relação ao ano anterior.  Desses, 67,3% foram adultos, 25% crianças e 7,7% em situação terminal. Números tão notáveis que levaram o Vaticano a marcar a próxima Jornada Mundial da Juventude em 2017 na capital Seul.

A pequena comunidade católica do Camboja – país de 97% de budistas – celebrou com alegria o batismo de 127 jovens e adultos na Vigília Pascal em Phnom Penh, a capital. Muitos não cristãos, movidos por curiosidade ou busca sincera, têm se aproximado da fé, como relata o Bispo da capital Enrique Figaredo Alvargonzález. Dois casos semelhantes são de Yem Samnang, de 20 anos, e Prum Mey, de 24, ambas tocadas pelo testemunho dos cristãos que conheceram. O padre Charles Lichipan afirmou que a Igreja seguirá acompanhando esses jovens em sua caminhada espiritual.

Já na Australia, a Arquidiocese de Melbourne recebeu mais de 200 catecúmenos acompanhados por 150 candidatos já batizados que desejam plena comunhão com a Igreja. Segundo o arcebispo Peter Comensoli, trata-se de um dos maiores grupos de Rito de Eleição na Catedral de São Patrício. Um dos catecúmenos, Jason, contou que começou a frequentar a igreja após o pedido espontâneo de sua filha de oito anos, Ivy. Hoje, eles vão juntos à missa várias vezes por semana, e ele afirma: “Sinto falta quando não vamos. Ver minha filha feliz me motiva.”

Os Estados Unidos, um cenário à parte.

Os Estados Unidos, diferentemente do Reino Unido, em que o número de católicos entre 18 e 24 anos já é maior que o número de anglicanos na mesma faixa etária e da Alemanha em que o número de católicos já ultrapassa o de protestantes, a Igreja Católica ainda é minoria em relação às diversas correntes protestantes, apesar de ser a maior denominação cristã do país.

Sinais do crescimento católico contínuo e da queda protestante podem ser vistos em eventos como a compra da Crystal Cathedral, originalmente protestante e com capacidade para 2100 fiéis, pela Diocese de Orange, na Califórnia, em 2012, por 57,5 milhões de dólares além de mais  77 milhões em sua reforma para adaptá-la ao culto católico.

Somente na Arquidiocese de Los Angeles, uma das cidades mais ricas e populosas, além de ser uma das mais controversas de todo o país, 3.308 adultos foram batizados, o que representa um aumento de +44% em relação ao ano anterior. Em Portland, ainda na costa Leste, 1200 adultos foram batizados, 25% a mais do que no ano passado. 

Em todo o país encontramos números encorajadores e porcentagem ainda mais felizes, como é o caso da diocese de Denver, em Colorado, em que o número quase dobrou (92%) em relação a 2022. No Texas, na Diocese de San Angelo, foram 607 novas conversões, um aumento de 56%. Em Worcester, Massachusetts, houve um aumento de 152% em relação a 2022, culminando em 323 novas conversões. 

São inúmeros casos de novas conversões, tantas que eu deixarei aqui o link para que você, caro leitor, possa conhece-las (https://www.ncregister.com/news/easter-2025-new-catholics-by-the-numbers?utm_source=chatgpt.com). Há uma cidade em particular que eu gostaria de chamar a atenção para finalizarmos, que com 12 mil habitantes, houveram 38 novos batizados, sendo 30 adultos e 8 crianças. 

A diferença entre batizados infantis e de adultos e o que isso quer nos dizer.

Enquanto muitas crianças são batizadas sem de fato escolherem a fé, o mesmo não se pode dizer dos adultos, que muito dificilmente se submetem à catequese e às Missas se não for de livre e espontânea vontade. Destes números podemos contar muitas conversões verdadeiras, de pessoas que não querem apenas seguir uma tradição com os seus filhos, como é o caso de muitos amigos nossos, mas que verdadeiramente querem entender e abraçar a Fé de São Pedro e São Paulo.

Apesar do número de pessoas que deixam a Igreja ainda ser maior do que o número dos que entram, no caso dos Estados Unidos, de 8:1, devemos considerar a qualidade dos que saem e dos que chegam. 

Não tenho nenhum dado estatístico para comprovar o que digo, mas você com certeza enxerga o mesmo que eu. Aqueles que saem nunca poderiam se dizer católicos verdadeiramente, mas apenas se identificavam com a Igreja por costume ou tradição familiar. Ora, como pode alguém ser católico se não frequenta a missa ao menos aos domingos? Como pode alguém se dizer católico se não se confessa regularmente? Como pode alguém se dizer católico se não vive segundo a lei de Deus e busca n’Ele a própria felicidade? 

Enquanto os que entram, e neste ponto também devemos dividir a mesma percepção, temos pessoas que se comprometem de verdade, que amam a Igreja, que querem ser cada dia mais santos e virtuosos e, sobretudo, que querem levar os seus amigos e familiares consigo nesta jornada de eterna alegria. 

Somos como um foguete que, por um desvio de rota, entrou na órbita de um planeta estranho. Por ora, ainda descemos, aproximando-nos perigosamente do ponto mais profundo — o nível zero. Mas já não estamos desatentos: reconhecemos o erro, ajustamos a direção para o alto e acionamos os propulsores. A aceleração voltou a ser positiva, e a queda, aos poucos, perde força. Em breve, ganharemos impulso suficiente para nos afastarmos desse planeta inóspito chamado agnosticismo — e do deserto espiritual do ateísmo — que por tanto tempo nos atraiu com promessas vazias.

DUC IN ALTUM!

Emilio Franceschetti.

Rio de Janeiro, 01/05/2025


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